Cristiano Ronaldo é uma espécie de íman para um campeonato adormecido
O Jornal Económico falou com uma jornalista e tradutora portuguesa radicada em Itália há onze anos. Para Margarida Rodrigues, a contratação de Cristiano Ronaldo pela Juventus é uma grande oportunidade apesar das dificuldades que grassam na economia italiana.
Margarida Rodrigues, jornalista e tradutora portuguesa radicada em Itália desde março de 2007, tem acompanhado com o máximo interesse a chegada de Cristiano Ronaldo a Itália e falou deste entusiasmo em entrevista ao Jornal Económico. Apesar de não esconder a preferência pelas ‘cores’ da Fiorentina, a portuguesa está a torcer para que esta contratação da Juventus represente um marco para o renascimento da Serie A.
Como é que Itália está a encarar a chegada de Cristiano Ronaldo à Serie A?
Aqui não se fala de outra coisa. Desde que Portugal foi eliminado do Mundial que só se fala de CR7. Ainda não era oficial a sua chegada à Juventus e já os programas que seguiam o Mundial na Rússia, falavam mais dele do que dos jogos em curso. Até este domingo, durante a final do Mundial, só falavam do Ronaldo e da sua chegada a Turim para assinar o contrato e efetuar os testes médicos.
Os adeptos estão fora de si. Muitos vieram de várias partes da Itália para o receber mas também de outros países europeus, como a Alemanha. As primeiras camisolas com o seu número foram vendidas em poucas horas. A sociedade de Turim está super orgulhosa do que conseguiu fazer e, ainda a contratação não era oficial, já a cotação da Juventus na bolsa tinha subido de 33% em poucos dias. Até se diz que vai viver para a casa onde morou o Zidane.
Existe a expectativa de que Ronaldo possa ser uma ajuda para a dinamização da economia italiana? Em que setores?
Há vários anos que as equipas italianas que conseguem ir mais longe na Champions e na UEFA são a Juventus, o Milão, o Inter e ultimamente também a Roma e o Nápoles, especialmente quando cá jogava o uruguaio Edison Cavani. A Fiorentina, há cerca de quatro anos, também conseguiu ir longe na Taça UEFA mas a verdade é que a hegemonia da Juve nos últimos anos não tem rival. É a equipa mais forte e consistente do campeonato italiano. A expetativa é que a chegada de Ronaldo atraia outros grandes jogadores ao campeonato.
Longe vão os tempos em que alguns dos melhores futebolistas do mundo militavam nas equipas italianas (basta pensar no Milan com o trio alemão e no Inter com o trio holandês nos anos 90). O que todos esperam é que as equipas italianas possam voltar a desempenhar um papel importante no futebol mundial, especialmente após a seleção ter sido eliminada da qualificação para o Mundial da Rússia.
A nível de marketing nem se fala. Já começaram os anúncios publicitários com Cristiano Ronaldo. As camisolas com o nome dele custam mais de 135 euros e mal foram impressas as primeiras, esgotaram logo, e já estão a tratar de uma segunda série para dar a oportunidade a todos de terem a camisa com o seu ídolo: o melhor jogador do mundo já cinco vezes e todos esperam que ganhe a bola de ouro outra vez este ano, desta vez com a camisa da Juventus.
De uma forma geral, os restantes clubes da Serie A vêem a chegada de Ronaldo como uma oportunidade ou como uma ameaça?
Seguramente como uma grande oportunidade e como uma espécie de íman que possa atrair outros jogadores de grande relevo a um campeonato que nos últimos anos parece adormecido ou menos importante aos olhos do resto do mundo. Muitos esperam atrair alguns dos grandes futebolistas que se destacaram no mundial. Certo que todos gostariam de ver jogadores como Messi, Modric, Coutinho, Neymar, Kane, Schmeichel e tantos outros a jogar em Itália, mas a verdade e que nos últimos anos o campeonato italiano não brilha tanto como noutros tempos e a nível económico, só a Juventus é que tem a possibilidade de adquirir um jogador com CR7.
Tendo em conta que a Juventus é hepta, existe o risco da Serie A se tornar ainda mais desequilibrada, ao nível do campeão?
A verdade é que nos últimos anos a Juventus não tem grande rivais no campeonato. Muitos dizem que com a chegada do Ronaldo, nem vale a pena começar o campeonato pois já se sabe que a Juve vai ganhar outra vez, mas uma equipa é feita de 11 jogadores. É verdade que o CR7 é o melhor do mundo, ninguém o pode negar, mas apesar de sozinho não se ganhar campeonatos, tê-lo na equipa já é meio caminho andado.
Muitos dos seus colegas não vêem a hora de o conhecer e de tentar perceber qual é o seu segredo pois todos dizem (por exemplo, Arrigo Sacchi, ex selecionador da Itália) que Ronaldo não nasceu com o dom do futebol como Pelé, ou Messi, mas com os anos têm vindo a crescer a nível profissional tendo atingido um nível quase de “extraterrestre” que o eleva ao título de Deus do Olimpo.
A questão dos trabalhadores da Fiat, que questionam o dinheiro que se está a gastar nesta contratação, é vista com alguma solidariedade por outros setores profissionais ou existe aqui algum aproveitamento para garantir a visibilidade de algumas reivindicações?
Essa não é uma questão que não se tem falado muito a nível dos telejornais. A crise da Fiat já dura há alguns anos. É óbvio que quando se fala de contratações com valores estratosféricos, estando o país a viver uma crise a nível de desemprego e de imigração que tem vindo a melhorar muito lentamente nos últimos anos, saber quanto o Cristiano vai ganhar num ano nunca pode ser visto de bons olhos, mas a vontade de o ver jogar no campeonato italiano, tem colocado outras questões em segundo plano.
Diz-se que Ronaldo já vendeu cerca de 54 milhões de euros em camisolas? Como é encarada esta capacidade de gerar dinheiro que a marca Ronaldo traz a Turim e à economia italiana?
As primeiras camisolas com o número dele esgotaram em poucas horas e tiveram de ser encomendadas outras que, na minha modesta opinião, não vão chegar para satisfazer todos os pedidos dos italianos e também dos fãs estrangeiros. Como qualquer grande jogador, Ronaldo é uma máquina de fazer dinheiro. A nível publicitário não há quem o bata e todos dizem que o mínimo gesto que ele faz é intencional pois sabe muito bem gerir a sua imagem. Há quem diga que é um excelente relações públicas e que sabe muito bem jogar com a fama pois tudo o que ele faz propaga-se em poucos segundos a nível das redes sociais e da internet em geral.
As camisolas estão mais caras e os lugares no estádio da Juventus também. Existem críticas sobre este aproveitamento ou o entusiasmo de ver chegar este jogador a Itália supera tudo isso?
Estamos a falar do melhor jogador do mundo. É normal que a Juventus aumente o preço das camisolas pois sabem muito bem que as pessoas vão comprar e não importa o valor que tenham de pagar. No futebol é tudo uma questão de dinheiro e de marketing e não há ninguém melhor do que o CR7 para gerar dinheiro a todos os níveis, desde o marketing, ao turismo e à restauração. Quem não gostaria de ter uma casa perto do melhor jogador do mundo, jantar no mesmo restaurante onde ele vai comer, ou visitar Turim que todos dizem ser uma cidade fabulosa para permanecer num dos hotéis da cidade para ir ver uma partida da Juventus com a sua nova estrela?
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